UM CHAMADO PARA AÇÃO – Infoguerra

Nossos passos vem de longe“, como muitas vezes escuto dxs manxs que estão nas várias frentes do movimento negro. O fascismo não nasceu ontem. A necessidade de organização e as resistências também não. Sinistro isso de como muitas pessoas estão se sentindo à vontade pra disseminar ódio e autoritarismo como bem entendem e creio que seja a concretização de suas vontades, antes encubadas e restritas as suas próprias casas, agora reafirmadas pelas redes de contatos, transformadas em bolhas, que são possibilitadas pelas redes sociais. O lance é que as bolhas estão furando e a cortina que encobre a mentira da democracia política no Brasil está rasgando, assim como a que encobre a mentira da democracia racial já foi rasgada. O que existe, pra mim, é uma guerra social que tem ideologias de controle muito bem definidas e muito bem camufladas e quanto mais os espelhos e tetos de vidro vão se quebrando, mais a idéia de “paz” vai sendo desmascarada. Talvez venha daí o medo e o apelo à votar neste ou naquele para impedir uma suposta tragédia. Tragédia já instaurada aqui há centenas de anos quando invadiram o território em que hoje sobrevivemos e iniciaram o saqueamento de recursos naturais baseado na escravização de povos que até hoje são considerados “inferiores” por supremacistas. Estes supremacistas são os mesmos e estão nos mesmos postos de controle. Estas ideologias supremacistas ainda são as mesmas e ainda são as mesmas “famílias” à fortalecerem isto. Aonde estávamos quando tudo isso começou à aflorar? Nos mesmos lugares que sempre estivemos ativ@s, nem sempre junt@s, cada umx no seu corre, desde que despertamos para as primeiras influências de idéias libertárias. Nas ruas, espaços e lugares, espalhando estas idéias através das ferramentas que o movimento Punk e Hip Hop nos emprestou e nos empresta, sempre que possível. A “apatia” nunca foi uma opção. E, nos corres, não foram poucas as ameças de morte reais, face a face, que vivenciamos, já sabemos como funciona isso. Não quero cair na armadilha do desespero e da autoculpabilização pelo “erro”, pela “falha”, pois sei do esforço, da exposição à riscos, do sangue e do suor que nós e muitxs manxs ofereceram e permanecem até aqui (xs que conseguiram sobreviver até aqui). Essa balança é sinistra, de um lado tem os governos, com seus Estados supremacistas consolidados, armados até os dentes por leis, fuzis, viaturas, exércitos instituições, enfim… do outro tem nós. É injusto comparar o rítmo de avanço deles e o nosso. Mas tem uma possível “falha”, que me incomoda bastante, que é o complexo de elite cultural que infelizmente muitxs que conhecemos adotaram e que, pra mim, é o que causa o isolamento que impede o diálogo com as várias outras frentes e culturas que também se organizam tendo terreno de luta comum. Isso impede o aprendizado, impede o escambo de vivências, impede a troca de idéia que possibilitaria o entendimento de nossas práticas e de outras práticas que poderíamos colar, chegar juntx e fortalecer. Isso, pra mim, é algo que precisa ser abolido. Fronteiras que precisam ser furadas. E mais do que pensar, analisar, opinar e escrever, vamo fazer, continuar fazendo. “Ei, você, quê que você faz? E você, manx, tem experiência com o que? Acha que rola da gente desenrolar uma oficina com a criançada dia tal em tal lugar? Posso contar com vocês? Se precisar de ajuda naquele corre lá, tem uma galera pra chegar juntx também! Se der certo, a gente aumenta a dose, fecha um coletivo, desembola um informativo baseado nas práticas, forma um grupo de estudo e autodefesa, forma um grupo de apoio social e psicológico, de intervenção urbana, o que acham? Chega mais, tem vários corre pra fazer!”. Às vezes a gente acumula uma tonelada de conhecimentos e fica tão frustradx com a quantidade de informações que parece que nada cabe na realidade. Daí ficamo dando volta em círculos, ao invés de romper com os ciclos viciosos e gerar outros ciclos que façam novas ações fluírem. Deixemos em cima da mesa aquilo que a gente precisa utilizar, o resto a gente dá pra alguém ou descarta. Vamo fazer, continuar fazendo. Não vai ser nas urnas que o fascismo vai morrer. Permanecemos de pé e que sejam sempre lembradxs aqueles que suaram, sangraram, foram presxs, torturadxs, mortxs… que lutaram, para que pudéssemos chegar onde chegamos.

Imagem: capa do disco “A Call To Action (Um Chamado Para Ação)” do bando CONTRAVENE, lançado em 2003.